Ator em ascensão na Globo, Chay Suede abriu mão de interpretar Ayrton Senna em uma biografia da Netflix para permanecer na emissora – mais precisamente, para assumir o papel de um dos protagonistas de Travessia, atual novela das 9 escrita por Glória Perez.
Em meio a uma trama cheio de furos e tipos sem sabor, entretanto, o personagem Ari está se mostrando um verdadeiro mico. Noivo da mocinha Brisa (Lucy Alves), com quem tem um filho, Ari nunca trabalhou na vida, só estudou arquitetura.
Os custos desses estudos, inclusive, sempre foram bancados pela esforçada noiva – que, além de dançarina, trabalha como lavadeira.
Além de folgado, o personagem ainda por cima é infiel. Chegando ao Rio de Janeiro, ele se encanta por Chiara (Jade Picon), a filha mimada e patricinha de Guerra (Humberto Martins), arqui-inimigo de seu mentor, Dante (Marcos Caruso).
Com a desculpa esfarrapada de que se aproximaria da jovem para descobrir podres de Guerra, Ari acabou se apaixonando pela riquinha, sem perder tempo para trair Brisa e esquecer até do filho, abraçando uma nova personalidade e disposto a aceitar a vida de playboy que a noiva não pôde proporcionar a ele.
Por ironias típicas de melodramas de Glória Perez, Suede – que foi descoberto em um reality show musical (Ídolos, em 2010) – acabou parceiro de cena com duas outras crias de realities: Lucy Alves (The Voice 2013) e Jade Picon (BBB21). Enquanto a primeira já trabalha como atriz desde 2016, quando estreou na novela Velho Chico, a segunda ganhou um papel de destaque sem nunca ter atuado.
Se Lucy supera as limitações de sua personagem para se mostrar luminosa em cena (mesmo aparecendo menos do que deveria), a inexperiente Jade tem dado show de vergonha alheia no ar – arrastando seu parceiro Chay para momentos sofríveis.
Após um começo de carreira muito criticado como estrela da versão brasileira de Rebelde, na Record, Chay quase desistiu de atuar, mas deu a volta por cima ao ser chamado para Império, novela de Aguinaldo Silva na Globo que até faturou um Emmy internacional.
Desde então, emplacou papéis marcantes em outras cinco novelas, provando sua evolução em Amor de Mãe, exibida no horário nobre durante a pandemia. Mas, com Travessia, todo o esforço ameaça ir pelo ralo.
Na novela, o artista tem de descascar um abacaxi: um papel de protagonista que não consegue ser lido nem como anti-herói, apesar de parecer essa a intenção de Gloria Perez, nem como um mocinho ou vilão tradicionais. Com motivações capengas e falta de caráter, apesar da cara de bobo, o personagem não conquista qualquer simpatia e precisará de uma virada na história para driblar a rejeição.
Como a trama é aberta, a autora tem tempo para reverter o problema, é claro. Mas, enquanto isso não ocorre, resta ao ator refletir se valeu a pena trocar o lendário Ayrton Senna por um personagem tão esquecível.