Nos últimos sete anos, os cientistas trabalharam em uma tecnologia de edição de genes desenvolvida com base em CRISPR para tratar a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana. Os pesquisadores da Escola de Medicina Lewis Katz da Universidade Temple, nos Estados Unidos, desenvolveram um medicamento que pode ser a cura funcional para o HIV.
A terapia é conhecida como EBT-101 já foi aceita pela Food and Drug Adminstration (FDA) dos Estados Unidos como medicamento investigacional, o que possibilita o início de ensaios clínicos de fase 1 e 2, ou seja, a primeira etapa dos testes em humanos.
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Nos estudos pré-clínicos, os cientistas conseguiram extinguir com a técnica o DNA pró-viral (material genético do vírus inserido na célula) dos genomas de células humanas infectadas com HIV.
O vírus é especialmente difícil de ser combatido porque eles infectam as células cruciais do sistema imunológico, conseguindo se tornar invisíveis para os mecanismos de defesa do corpo. Ou seja, quando a infecção pelo HIV avança, o paciente desenvolve a Aids, que é doença caracterizada pelo enfraquecimento do sistema imunológico.
Junto com Tricia H. Burdo, professora do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Inflamação, os pesquisadores notaram que a tecnologia de edição de genes pode eliminar o SIV (um vírus relacionado ao HIV) dos genomas de primatas não humanos.
Entenda o que é CRISPR
Sendo assim, os testes clínicos serão iniciados e gerenciados pela Excision BioTherapeutics, empresa com experiência no desenvolvimento de remédios baseados em CRISPR contra doenças virais infecciosas. A sigla representa o acrônimo do termo em inglês “Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats”, que em português seria “Conjunto de Repetições Palindrômicas Curtas Regularmente Interespaçadas”.
A tecnologia usa uma estratégia parecida com a realizada por bactérias diante de um vírus que as ataca: elas copiam o DNA do invasor e guardam em sua memória e, em um próximo ataque, utilizam a proteína Cas9 para cortar um pedaço do material genético viral para impedir que o vírus se reproduza, evitando assim a infecção
Desenvolvida pelas cientistas Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna, a técnica consiste em dar à Cas9 a parte o DNA que deve ser modificada. Depois de identificar o material genético, a proteína tira das células humanas a sequência do DNA apresentado.
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“Estudos em humanos devem começar nos próximos anos. É uma técnica fantástica e pode sim ser uma das novas armas contra o câncer”, apostou Fernando Maluf, oncologista do hospital Israelita Albert Einstein.Já que é um sistema de edição genética, o uso errado da CRISPR provocou a prisão do geneticista chinês He Jiankui, que criou dois bebês geneticamente modificados em 2018.
Com isso, a situação gerou a criação de uma comissão internacional que publicou um documento afirmando que a ciência ainda não consegue garantir que a edição genética não cause efeitos colaterais no futuro. Atualmente, a realidade de alguém diagnosticado com HIV é diferente daquela vivida na década de 1980. Antes, a infecção era sinônimo de morte, e agora, os pacientes em tratamento vivem uma rotina normal.
Além disso, o tratamento pós infecção possui um protocolo profilático conhecido como PrEP, o qual consiste em tomar dois antirretrovirais como forma de evitar que as células sejam invadidas pelo vírus. O tratamento é indicado para grupos suscetíveis ao vírus, como profissionais do sexo e pessoas que possuem relações sexuais sem camisinha com pessoas soropositivas que não se tratam.
No início de setembro, os estudos de uma vacina experimental contra o HIV foram encerrados depois de mostrarem que a proteção oferecida era insuficiente. Isso porque a vacina feita pela Johnson & Johnson apresentou apenas 25% de eficácia.
Fonte: O Globo
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