As exportações totais de café do Brasil em agosto de 2021, somando café verde e industrializado (torrado e moído e solúvel), chegaram a 2.674.116 sacas de 60 kg, registrando queda de 25,2% em relação às 3.573.958 sacas em idêntico período de 2020. Em receita cambial, as remessas recuaram 1,6% no mês passado, saindo de US$ 427,5 milhões para US$ 420,5 milhões. Os dados partem do relatório mensal do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Nos dois primeiros meses da safra 2021/22, as exportações totalizaram 5,541 milhões de sacas, volume 18,7% inferior ao registrado em julho e agosto do ciclo anterior. Já a receita subiu 2,8% no intervalo, chegando a US$ 831,7 milhões. No acumulado do ano civil, o desempenho é similar, com as remessas brasileiras de café caindo 1,8% ante 2020, para 26,303 milhões de sacas, mas avançando 5,8% em valor, ao renderem US$ 3,618 bilhões nos oito primeiros meses de 2021.
Segundo o Cecafé, a reviravolta no desempenho das exportações brasileiras de café, que eram positivas até o acumulado de julho, reflete a continuidade dos gargalos logísticos no transporte marítimo, um problema estrutural que extrapola as fronteiras do Brasil e do produto, conforme revela o presidente da entidade, Nicolas Rueda. “Essa grave crise operacional gerou disparada no valor dos fretes, constantes cancelamentos de bookings – espaço dos contentores nos navios -, dificuldade para novos agendamentos e disputa por contêineres e lugares nos navios”, expõe.
De acordo com uma apuração realizada pelo Conselho junto aos exportadores, os entraves fizeram com que o Brasil deixasse de exportar cerca de 3,5 milhões de sacas entre maio e agosto de 2021, o que, considerando os preços médios dos embarques, equivale ao não ingresso de aproximadamente US$ 500 milhões em receitas ao país.
“O levantamento também mostrou que a média das rolagens de carga variou entre 10% e 20% de janeiro a abril de 2021, saltou para entre 20% e 30% em abril e maio, chegando aos patamares médios de rolagens de 40% a 50% nos últimos três meses, o que explica o significativo volume de café que o Brasil deixou de embarcar. O desempenho não foi pior em função do esforço titânico dos setores comercial e logístico dos exportadores, que ainda possibilita um fluxo considerável de café para fora do país”, analisa o presidente do Cecafé.
Rueda comenta que, com o avanço da vacinação e a reabertura das principais economias globais, especialmente Estados Unidos e Europa, houve um aumento monumental por alimentos, bens e serviços, gerando intensa demanda de navios, oriundos principalmente da China e de outros países da Ásia, para essas regiões. “Isso gerou desbalanço global na oferta e demanda de navios e contêineres, havendo fila de embarcações e muitos equipamentos, como os contentores, aguardando sua vez. Ou seja, há maior demanda e a infraestrutura não é reativa de imediato, assim os portos se encontram com a capacidade estrangulada”, explica.
O dirigente lembra que a pandemia ainda impõe desafios logísticos, principalmente com as novas mutações do vírus da Covid-19, como recentemente visto com o fechamento do porto chinês de Ningbo-Zhoushan, o terceiro maior do mundo na movimentação de contêineres, que causou o atraso de 350 embarcações. Além dos entraves logísticos, o presidente do Cecafé recorda que foi no terceiro trimestre que o fluxo do comércio exportador começou a fazer a transição da grande safra 2020/21 para a 2021/22, que é menor em função do ciclo bienal negativo e dos impactos da estiagem, cujo volume colhido contrasta de maneira significativa com a temporada anterior, que será lembrada como uma das maiores da história.
“Diante dessa menor disponibilidade de café na safra atual, são ainda mais necessários planejamento, agilidade, persistência e eficiências logística e comercial até que os gargalos no comércio marítimo global passem a ser superados, o que deve acontecer somente a partir do segundo semestre de 2022”, conclui.
Principais importadores de café
De janeiro a agosto de 2021, os Estados Unidos foram os principais parceiros comerciais do café brasileiro. Os norte-americanos adquiriram 4,994 milhões de sacas, o que implicou crescimento de 1,1% na comparação com o mesmo intervalo no ano passado. Esse volume representou 19% das exportações totais do Brasil até o momento.
A Alemanha, com representatividade de 17,4%, importou 4,589 milhões de sacas (+1,5%) e ocupou o segundo lugar no ranking. Na sequência, vieram Bélgica, com a compra de 1,841 milhão de sacas (-6,3%); Itália, com 1,829 milhão (-10,9%); e Japão, com a aquisição de 1,562 milhão de sacas (+14,1%).
Também merece destaque a aparição da Colômbia como sétimo país que mais importou cafés do Brasil entre janeiro e agosto de 2021. O país vizinho, que é o terceiro maior produtor global da commodity, adquiriu 744.833 sacas no intervalo e registrou substancial incremento de 79,7% na comparação com as compras do produto nacional realizadas nos oito primeiros meses de 2020. É válido destacar que, desse total, 700 mil sacas são do produto in natura, que é utilizado para consumo interno ou industrialização do café colombiano a ser comercializado.