Inevitável na maioria das metrópoles mundiais, a exposição a ruídos provocados pelo trânsito de carros ou do transporte sobre trilhos está associada ao aumento do risco de desenvolver demência no futuro. É o que concluiu um estudo dinamarquês cujos resultados foram publicados no periódico científico BMJ na semana passada.
Os pesquisadores identificaram que 14,3% de todos os casos de demência registrados na Dinamarca em 2017 podem ser atribuídos a exposições a ruídos de tráfego.
O ruído urbano tem sido motivo de preocupação de autoridades sanitárias em todo o mundo.
A poluição sonora das grandes cidade é relacionada a uma piora geral da qualidade de vida, interferindo no sono, na queda da performance nos estudos ou trabalho, além de maior risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares e psiquiátricas.
Na Europa, um em cada cinco residentes está regularmente exposto a níveis de som (acima de 55 decibéis) durante a noite que podem prejudicar significativamente a saúde, segundo a representação da OMS (Organização Mundial da Saúde) no continente.
O estudo dinamarquês investigou a associação entre a exposição residencial a ruídos de tráfego rodoviário e ferroviário e o risco de demência em 2 milhões de adultos com mais de 60 anos entre 2004 e 2017.
Eles estabeleceram parâmetros comparativos em endereços cujas fachadas eram mais ou menos expostas aos ruídos de tráfego.
Após filtrar outros fatores de risco inerentes a cada grupo e bairro, os pesquisadores descobriram que uma exposição média de 10 anos a esse tipo de ruído é suficiente para o desenvolvimento de demência.
A exposição ao barulho gerado por automóveis, por exemplo, aumentou em 27% o risco de desenvolver doença de Alzheimer.
Os autores do artigo sugerem como possíveis explicações para a demência em indivíduos submetidos a uma exposição prolongada a ruídos urbanos a liberação de hormônios do estresse e distúrbios do sono, que podem causar um tipo de doença arterial coronariana, alterações no sistema imunológico e inflamações, condições vistas como eventos desencadeadores de fases iniciais de demência e doença de Alzheimer.
Por ser um estudo observacional, os pesquisadores salientam que não foi possível estabelecer a causa da demência nos indivíduos, uma vez que não foram levados em conta hábitos de vida e fatores como isolamento acústico das residências.
“Se esses achados forem confirmados em estudos futuros, eles podem ter um grande efeito na estimativa da carga de doenças e custos de saúde atribuídos ao ruído de transporte. Expandir nosso conhecimento sobre os efeitos nocivos do ruído na saúde é essencial para definir prioridades e implementar políticas e estratégias de saúde pública eficazes com foco na prevenção e controle de doenças, incluindo a demência”, sublinham os pesquisadores.
Por fim, o grupo endossa um alerta da OMS, ao dizer que “a poluição sonora não é apenas um incômodo ambiental, mas também uma ameaça à saúde pública”.