A falta de insumos provoca atrasos nas entregas e cancelamentos de vendas antecipadas de defensivos em Mato Grosso. Na região sul do estado, agricultores temem ficar sem produtos suficientes para a safra de soja.
Além disso, as chuvas irregulares comprometem o ritmo do cultivo da oleaginosa, como o ocorrido na propriedade do agricultor Jorge Piccinin Filho em Campo Verde, sudeste de Mato Grosso. Até agora, apenas metade dos 4.600 hectares foi semeada. “Chuvas bem isoladas aqui na região sul do estado, e o plantio segue no ritmo lento. As chuvas estão bem ‘manchadas’”, diz.
O atraso das entregas dos insumos, principalmente os defensivos químicos, é outra preocupação do agricultor neste início de safra. “Principalmente o Glifosato. Dos 30 mil quilos do WG que foi comprado, entregaram apenas cinco mil quilos e eu tinha uma quantia da safra passada e mais esses cinco mil que me entregaram. Foi o que eu consegui fazer no começo, mas já está faltando, não está sendo suficiente para fazer a dessecação para o início do plantio. Estou no aguardo de chegar mais”, conta.
Cooperativas e a soja
Nas cooperativas da região que realizam as compras diretamente com as multinacionais e fabricantes nacionais, a preocupação é ainda maior. É que além do atraso das entregas de insumos, alguns contratos antecipados de defensivos foram cancelados. É o caso da Cooaprima, em Primavera do Leste, responsável pelo cultivo de mais de 120 hectares de soja.
“Não cancelaram total, mas houve parte cancelada que dá uns 20% de Glifosato, e teve problema com o imidacloprid também, teve uma empresa de que a gente havia comprado, cancelou 60%, diz que vai entregar só 40%, e não tem outra empresa que tem mais para vender. Então a cooperativa e o produtor não conseguem mais comprar”, afirma o presidente da Cooaprima, Pedro Geraldo Bravin.
Este cenário deixa o setor apreensivo quanto ao manejo da safra de soja 2021/22. “Essa que é a grande dúvida porque o glifosato é usado tanto na dessecação como no pós emergente também para matar as ervas daninhas no meio da cultura, e agora a gente está com medo de instalar a lavoura, plantar tudo e chegar a hora de fazer as aplicações de defensivos, tanto para ferrugem, como para percevejo, cascudinho e lagartas e não ter o produto. Vão vir danos muito mais graves para frente com praticamente 80% do custo feito por falta de certos produtos”, considera Bravin.
O vice-presidente da Aprosoja-MT recomenda cuidado dos produtores. “A gente sabe que para quem paga um pouco mais caro ainda consegue comprar glifosato pagando o dobro do preço que era praticado há um ano atrás, então muitas vezes não é a falta do produto mais sim muitas vezes a má fé de quem vendeu, então não assinem acordo, procurem advogado e entrem em contado aqui conosco também que qualquer prejuízo pra o produtor vai ser combatido pela nossa entidade.”
Posicionamento sindical
O Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) esclarece que seus associados têm enfrentado aumento de custos de matérias-primas, embalagens e logísticos desde o início da pandemia, além dos impactos decorrentes da variação cambial. Nas últimas semanas, entretanto, problemas climáticos em áreas onde estão localizadas unidades fabris e portos, somados à crise energética da China, pioraram o cenário de abastecimento do setor.
A China, principal fornecedor de matérias-primas utilizadas na síntese e formulação de defensivos, adotou medidas restritivas em função de compromissos ambientais para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e estas restrições estão afetando várias províncias nas quais estão localizados parques fabris importantes. O sindicato – que representa 27 indústrias do setor no Brasil – não se manifesta sobre ingredientes ativos específicos, contudo, pode afirmar que tem recebido relatos de seus associados sobre dificuldades na aquisição e recebimento de matérias-primas em geral, acentuadas pela situação relatada.
Esses problemas estão atingindo profundamente os custos de produção de defensivos agrícolas e, inevitavelmente, devem chegar ao preço final dos produtos. Em nota, afirma: “O Sindiveg e suas associadas seguem focadas em cumprir o seu papel de importância socioeconômica, trabalhando para evitar quaisquer problemas no abastecimento e, assim, poder oferecer soluções para as pragas e doenças que afetam a produtividade e a rentabilidade do campo”.