Condomínios de agroenergia promovem economia em propriedades rurais


Tecnologia gera biogás e é adequada a pequenas propriedades rurais/ Foto: Embrapa

A geração de gás natural em pequenas propriedades rurais, por meio de um sistema integrado, é um bom negócio para o ambiente e para os produtores. Essa foi a conclusão do estudo de um condomínio de agroenergia implantado em Marechal Cândido Rondon (PR).

Pesquisadores do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da Embrapa, da Universidade de Brasília (UnB) e do Centro Internacional de Energia Renovável (CI Biogás) apontam as possibilidades de vários modelos de negócio para a implementação de projetos coletivos de aproveitamento energético da biomassa residual (como o esterco) que podem beneficiar produtores familiares.

No Condomínio Ajuricaba, um projeto-piloto de pesquisa de produção de biogás em pequena escala, próximo à Usina Hidrelétrica de Itaipu, os biodigestores das propriedades rurais são interligados por uma rede de gasodutos que transporta o excedente de biogás para uma central de armazenamento. À época do estudo, em 2018, o biogás era comercializado para uma unidade de abate de aves da Cooperativa Agroindustrial Copagril, vizinha do condomínio. No momento, o biogás é utilizado somente pelas propriedades.

O condomínio de agroenergia foi implantado em 2009, com a instalação de biodigestores visando ao aproveitamento energético de dejetos da bovinocultura de leite e da suinocultura em 33 estabelecimentos familiares rurais localizados na microbacia do Córrego Ajuricaba. Os biodigestores foram conectados a um gasoduto de 25,5 km para o transporte do excedente de biogás (não utilizado nas propriedades) para uma central de armazenamento, na qual inicialmente era feita a alimentação de um secador de grãos comunitário e a geração de energia elétrica em uma microcentral termelétrica.

Em 2018, de acordo com dados do estudo, as 14 propriedades analisadas (de um total de 25 do condomínio, à época) já produziam juntas uma média mensal de 1.433 m³/mês de dejetos de bovinos e de suínos, que geravam uma produção média de 3.947 m³/mês de biogás. Em quase todas as propriedades, o consumo de gás de cozinha e lenha havia sido totalmente substituído pelo biogás.

Segundo os autores, outros estudos indicam que essa substituição pode reduzir em até 80% as despesas para aquisição de GLP e fertilizantes minerais. Foi o que registraram análises de projetos de digestão anaeróbia de pequeno porte implementados em áreas rurais na Colômbia.

“É importante ressaltar que em nossa condição tropical, a diversidade de substratos de resíduos que podemos usar para a geração do biogás nos proporciona vantagens em comparação a outros países que não têm uma diversidade tão grande para o processo de biodigestão. É uma vantagem competitiva muito grande que o Brasil possui”, explica o pesquisador Airton Kunz, da Embrapa Suínos e Aves (SC), que participou da implantação do Condomínio Ajuricaba.

O pesquisador Bruno Porto, do Mapa, um dos autores do estudo, lembra que antes da implementação do condomínio de agroenergia não havia o aproveitamento energético dos dejetos animais. “Os dejetos eram armazenados em lagoas de estabilização abertas, que são caracterizadas pela emissão de gases de efeito estufa, e depois aplicados como fertilizante nas lavouras”, lembra Porto.

“A pesquisa indicou que a substituição do consumo de gás de cozinha em todas as propriedades pode melhorar a percepção dos agricultores em relação à implementação do projeto, sobretudo pela melhora nos indicadores de renda e de autonomia energética, como consumo de energia, geração própria, aproveitamento, reúso e autonomia na área agrícola, segurança energética e geração de renda. São questões estratégicas para a redução de custos das unidades familiares”, explica o pesquisador João Paulo Guimarães Soares, da Embrapa Cerrados (DF).

Desafios

Nove anos após a implementação, o Condomínio Ajuricaba ainda apresentava alguns desafios. Alguns produtores informaram, no momento da pesquisa, que os biodigestores ficavam distantes das residências e que não havia sido construída a tubulação necessária ao transporte e uso do biogás nas propriedades.

Outra questão apontada pelo estudo é a dificuldade de aproveitamento do digestato (material que passou por processo de digestão anaeróbia e que tem características fertilizantes muito semelhantes às do dejeto maturado), normalmente usado como fertilizante orgânico nas propriedades.

“A quantidade insuficiente de implementos agrícolas [equipamentos] para uso do digestato em substituição a fertilizantes químicos pode ter reduzido a economicidade e impactado negativamente a geração de renda no condomínio”, diz Porto. Ele acredita que a disponibilização de um número adequado de implementos para o uso do digestato poderá melhorar a percepção dos agricultores em relação a pelo menos quatro critérios: uso de insumos agrícolas e recursos; geração própria, aproveitamento, reúso e autonomia na área agrícola; qualidade do solo e geração de renda.

“No mesmo sentido, a construção de tubulação necessária ao transporte e uso do biogás em todas as propriedades poderia melhorar os indicadores de renda e de autonomia energética, como consumo de energia, geração própria, aproveitamento, reúso e autonomia na área agrícola, segurança energética e geração de renda”, completa Soares.

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