Pesquisa da UENP potencializa controle biológico da ferrugem


Com o objetivo de combater a ferrugem asiática da soja, responsável por perdas de até 90% na produção em diversas regiões do país, a professora do mestrado em Agronomia da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Mayra Costa da Cruz Gallo de Carvalho, descobriu uma nova forma de biocontrole da doença.

À frente de um estudo amplo sobre o assunto, a pesquisadora isolou um fungo que pode ser pulverizado em propriedades rurais, protegendo a soja da ferrugem. O fungo atua no crescimento de plantas e proteção do vegetal contra diferentes tipos de doenças.

A técnica é chamada de biocontrole, e acontece quando são utilizados inimigos naturais no controle de insetos-praga de culturas agrícolas.

O método apresenta diversas vantagens quando comparado ao controle químico tradicional, provando maior eficácia e menor agressividade ao meio ambiente. Essa é a primeira vez que o gênero é utilizado como agente de controle da ferrugem.

Professora do mestrado em Agronomia da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Mayra Costa da Cruz Gallo de Carvalho, descobriu uma nova forma de biocontrole da doença. Foto: SETI/AEN

“Estamos testando um número maior de aplicações no campo. Nos dois primeiros testes foi realizada uma única aplicação de forma preventiva, que resultaram em controles positivos de até 30%. Agora, temos ensaios no campo nos quais vamos aumentar o número de aplicações. Assim como se faz com fungicida, será aplicado de duas a quatro vezes, para ver se aumenta a eficiência”, afirma a professora.

Ferrugem

Para a pesquisadora, as descobertas trazem dois benefícios para a agricultura: a potencialidade de uso como controle biológico na agricultura orgânica e a possibilidade de integrar o agente biológico ao manejo da cultura já realizado.

Ferrugem asiática

Foto: Rafael Soares/Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul

Segundo ela, as perdas em decorrência da ferrugem foram controladas com o uso de fungicidas químicos nos últimos anos, mas desde as safras de 2003/04 esse controle tem sido menos efetivo em função da evolução da resistência a campo com consequente queda de eficiência dos químicos.

“Hoje não se consegue controlar da mesma forma que antes a ferrugem com os químicos disponíveis, temos um percentual de controle que fica entre 40% e 70%”, aponta Mayra.

As condições climáticas também são fundamentais nas epidemias de ferrugem, uma vez que as chuvas bem distribuídas ao longo da safra favorecem o desenvolvimento da doença.

A pesquisa da UENP ficou em terceiro lugar no Programa de Apoio à Propriedade Intelectual com Foco no Mercado (Prime) desenvolvido pelo governo do Paraná, por meio da Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti).

O estudo já está com uma parceria firmada com a empresa Leaf Agro para aumento da eficiência do produto e testes de registro.

Exemplo

O produtor rural Eucir Brocco, que tem propriedades em Palmas, na região centro-sul do Paraná; e em Pato Branco, no sudoeste; está entre os primeiros a elogiar pesquisas que ajudem os agricultores a enfrentar melhor doenças e pragas.

“Pode ter certeza que a vontade do produtor é usar menos fungicida, menos aplicações significam menos custos e você sabe que está preservando o produto”, afirma. “Existe essa consciência do produtor”, complementa.

Segundo o produtor, a região, em razão das particularidades, como clima e temperatura, sempre pede pesquisas que apontem novas cultivares e práticas para enfrentar a ferrugem. “É tudo o que a gente quer. É importante esse estudo e essa questão de produtos biológicos, a pesquisa tem de avançar, pois é importante cada ferramenta que a gente tiver a mais”, destaca.

Brocco lembrou que, no início da carreira, teve muitas perdas por não ter total conhecimento sobre os produtos usados. “Por sorte, em Pato Branco usamos produtos bem adequados e tivemos um controle bom, mas em Palmas, onde usamos em uma parte produto que não tinha eficiência muito boa, sofremos uma quebra grande”, afirma.

Vazio sanitário

As boas práticas estendem-se também ao vazio sanitário, período em que o produtor deve tirar toda planta viva de soja do terreno. Para atender ao Plano Nacional de Controle da Ferrugem da Soja (Portaria 306), o governo federal estabeleceu novas normas, entre elas a unificação de datas de plantio para os três estados da região Sul e a definição do período do vazio sanitário a cada safra.

Para a 2021/22, o período de semeadura começou em 13 de setembro e se estende até 31 de janeiro de 2022.

De acordo com Brocco, um dos diferenciais da região dele é que as lavouras semeadas em final de outubro e início de novembro, pós-trigo, precisam de um cuidado maior no monitoramento, em razão da umidade e temperatura mais favorável à ferrugem. No entanto, o plantio feito entre o final de dezembro até meados de janeiro possibilita que a soja se desenvolva em clima menos suscetível à doença.

“É um período ideal e, se a cultura for bem conduzida, acaba precisando menos aplicação”, afirma.

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