As fortes geadas causaram perdas em cerca de 19% das áreas de café de Minas Gerais em julho deste ano, atingindo 173,6 mil hectares de lavouras, segundo estimativa da Emater-MG. Para muitos produtores, os prejuízos foram grandes e a recuperação será difícil. Felizmente esse não foi o caso do cafeicultor Sérgio Meirelles Filho, que teve pequenas perdas este ano. No passado, ele enfrentou geadas muito severas, que fizeram a família mudar de cidade várias vezes em busca de um recomeço e trouxeram grandes lições.
O produtor de café superou as adversidades com o clima e conquistou uma posição de destaque na cafeicultura mineira, sendo um dos vencedores do Concurso de Qualidade dos Cafés Minas Gerais, em 2020, promovido pela Emater-MG.
Atualmente, Sérgio Meirelles Filho é produtor no município de Aricanduva, no Vale do Jequitinhonha. Em 2020, ele ficou em primeiro lugar no 17º Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas, pela região cafeeira da Chapada de Minas, na categoria “Natural” e também na categoria “Cereja Descascado, Despolpado ou Desmucilado”.
“O Sérgio tem um foco na melhoria contínua. Está sempre pesquisando, inovando e trabalhando, não para. E ele acumulou uma grande experiência durante os muitos anos de atividade”, comenta o coordenador regional de Culturas da Emater-MG em Capelinha, José Mauro de Azevedo.
Sérgio Filho nasceu em 1960, em São Gonçalo do Sapucaí, no Sul de Minas. Na época, havia um grande movimento de expansão da cafeicultura no Norte do Paraná e o pai dele se mudou com a família para lá, apostando no sucesso da atividade na região. Mas, em 1962, uma grande geada atingiu os cafezais do Paraná.
“A lavoura do meu pai era nova e sofreu muito. Ele então buscou outra fazenda no Paraná para continuar produzindo café. Depois de algumas colheitas bem-sucedidas, mais uma vez a geada nos atingiu. Em 1975, ocorreu a famosa ‘geada negra’, que dizimou muitas lavouras no estado. Daí meu pai resolveu voltar a plantar em Minas”, lembra Sérgio.
Produção de café no Jequitinhonha
O Sul de Minas, já enfrentou épocas complicadas e a família do produtor enfrentou fortes geadas, em 1979 e em 1981. Entretanto, a paixão pela cafeicultura era tamanha que ele decidiu fazer Agronomia e se tornar cafeicultor. “Nos anos 2000, a cafeicultura começou a se desenvolver na região de Capelinha, estimulada por alguns estudos, que diziam haver boas condições climáticas. A terra era barata e havia condições facilitadas de financiamento. Foi então que comprei uma fazenda na região”, lembra Sérgio.
No Vale do Jequitinhonha, o cafeicultor encontrou o ambiente ideal para produção e criou raízes, na região cafeeira conhecida como Chapada de Minas. “Ao longo da vida, minha família e eu continuamos a seguir para o Norte, como nômades do café. Mas daqui não devemos mais sair”, assegura. O produtor diz que a região é excelente para a cafeicultura e que só tem de se preocupar com a seca, por isso decidiu irrigar uma parte da lavoura para diminuir os riscos climáticos.
Mas Filho afirma que existe uma coisa que não mudou ao longo dos 40 anos de trabalho com o cafeicultura: a sua vontade de aprender e inovar. “O Sérgio é um pioneiro em muita coisa na região. Ele está sempre aberto às novas tecnologias e inovações. Com apoio da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), ele pesquisa cultivares mais propícias para o lugar e é sempre muito generoso de dividir seus conhecimentos com outros produtores”, afirma o coordenador da Emater.
Lições
Dentro dessa proposta de inovação e pesquisa, Sérgio plantou dois hectares da variedade geisha (cultivar originária da Etiópia que aportou no Brasil e começou a ganhar fama), numa fazenda em São Gonçalo do Sapucaí. “A lavoura tinha apenas seis meses e a geada de julho queimou tudo. Como este ano, ainda teve o agravante da seca, foi 100% de perda”, lamenta. Mas Sérgio não se deixou abalar pelo prejuízo.
O produtor de café e agrônomo salienta que a realidade de cada produtor é diferente e uma ocorrência climática adversa pode até quebrar o agricultor. “Cada pessoa tem uma situação, mas eu aconselho o cafeicultor a persistir, pois ele se especializou naquela cultura e cada região tem uma aptidão agrícola. Além disso, os investimentos são altos no plantio da lavoura, depois tem de construir o terreiro e adquirir equipamentos, então é complicado abandonar tudo”, argumenta.