Mulheres são mais suscetíveis a transtornos de ansiedade, e, num momento de pandemia, o problema pode se agravar
Em estudo realizado em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que o Brasil possui, se comparado a todos os outros países do mundo, o maior número de pessoas ansiosas. São 18,6 milhões de brasileiros que sofrem com algum tipo de transtorno de ansiedade.
Os dados evidenciam ainda que o universo feminino é o mais afetado: 3,6% dos homens apresentam o problema, enquanto no caso das mulheres o número dobra, chegando a 7,7%.
A ansiedade pode surgir de diversas maneiras. Nem todos os quadros de ansiedade são considerados patológicos, mas, em um grau mais alto, pode causar prejuízos no dia a dia, nas relações familiares, pessoais, profissionais, porque o ansioso começa a ter uma projeção negativa em relação ao futuro.
A ansiedade normal é um sentimento vivencial que as pessoas têm frente a uma ameaça – que pode ser concreta ou percebida de forma subjetiva. Podemos associá-la a uma reação de medo, e ela é muito importante, porque durante esse momento há a produção de noradrenalina e cortisol, que preparam o organismo para uma reação de enfrentamento, de luta, de defesa ou de fuga.
Já quando o nível de ansiedade afeta a qualidade de vida e a produtividade, e surgem sintomas físicos – por exemplo, palpitações, aperto no peito, sensação de sufocamento, formigamento nos pés e nas mãos, sudorese, tremores, náuseas ou diarreia –, além de queixas de falta de paciência, concentração, memória de curto prazo, de queda na produtividade e insônia, é hora de buscar apoio profissional.
Quando o sofrimento psíquico é intenso há alterações comportamentais e afetivas que prejudicam a funcionalidade da pessoa. O ansioso fica sempre esperando que algo de ruim aconteça, sente medo de algo que não consegue definir, um medo de tudo. Aí é importante procurar ajuda.
Ansiedade e coronavírus
As mudanças que afetam a todos durante o isolamento social exigido pela pandemia de Covid-19 vêm criando uma sobrecarga ainda maior na rotina das mulheres. Algumas estão com jornada dupla, com tudo acontecendo ao mesmo tempo: filhos, marido, casa, comida e o trabalho em home office. Elas não estão conseguindo administrar o dia a dia, e muitas relatam uma sensação de perda de controle. Houve algum alívio após o retorno das crianças às aulas presenciais.
O ansioso que tem uma tentativa de controle em relação aos acontecimentos futuros, neste momento de indefinição e falta de perspectiva encontra um combustível poderoso que alimenta os pensamentos ruins. As mulheres, em especial, vivem num estado de hipervigilância e não conseguem dormir direito porque ficam pensando nos problemas do dia seguinte. São vários gatilhos estressores que acabam sendo mais comuns ao universo feminino.
Além desses fatores, acredita-se que, por questões genéticas, algumas mulheres sejam mais sensíveis às oscilações dos níveis hormonais. Isso pode ocorrer na tensão pré-menstrual, na gestação, no pós-parto e na perimenopausa. Nesses períodos, elas se tornam ainda mais suscetíveis a quadros de ansiedade e de depressão.
Tratamentos possíveis
A ansiedade pode e deve ser tratada, para que seja possível resgatar a qualidade de vida que se tinha antes de os sintomas aparecerem.
O ansioso tem algumas crenças a respeito do meio que o cerca que são irreais, e o seu comportamento acaba sendo o reflexo disso. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) ajuda a mudar esses pensamentos disfuncionais e explora técnicas de controle e de mudanças de comportamento.
Outra sugestão muito simples para tratar a ansiedade é aprender a respirar. O ansioso normalmente respira pelo tórax, rápida e superficialmente. Temos a respiração diafragmática (ou abdominal), muito praticada na ioga, que é mais profunda e lenta. Ela mantém o equilíbrio entre o oxigênio e o gás carbônico no sangue, o ritmo adequado dos batimentos cardíacos, e é muito fácil de fazer.
Essa respiração deve ser exercitada todos os dias, três vezes ao dia, por cinco minutos de cada vez. Ao dominar a técnica, você pode usá-la quando os sintomas físicos surgem. O alívio é rápido. O mindfulness, a meditação e os exercícios físicos também podem ser bastante eficazes.
Para casos mais graves, o médico indica o uso de medicação. O padrão ouro para o tratamento da ansiedade é o antidepressivo, e não o calmante (ansiolítico). Eles não causam dependência nem prejuízo de memória, enquanto os calmantes podem ser usados como coadjuvantes, por períodos curtos, e não devem ser tomados com frequência. É preciso ter critérios de prescrição e evitar resistências ao tratamento principalmente por parte até de alguns terapeutas que mesmo vendo seus pacientes com muito sofrimento não o encaminham rapidamente ao psiquiatra.
Fonte: Entrevista do Dr Joel Rennó Jr à Revista Ela da Febrasgo- Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.