Morte de adolescente transmitida ao vivo em SC é desvendada após complexa investigação


A investigação do assassinato de Gustavo Farias Chiesa, de 16 anos, foi concluída pela Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Chapecó. Em 2020, o corpo do adolescente foi encontrado decapitado após ele ser condenado à morte pelo “tribunal do crime”.

Segundo a apuração da polícia, quatro pessoas estão envolvidas no assassinato e foram indiciadas por homicídio triplamente qualificado. O delegado Vagner Papini detalhou para o Diário Catarinense, nesta quarta-feira (21), que a investigação foi uma das mais complexas da história da DIC.

Os policiais levaram dois anos e dois meses para desvendar o crime, visto que não havia testemunhas oculares e precisaram de apoio de multinacionais como Google, Uber e WhatsApp para reunir provas.

Gustavo desapareceu no dia 9 de junho de 2020 e foi encontrado morto 40 dias depois em um matagal na linha São Roque. O cadáver estava em avançado estado de decomposição, com um dos braços e a cabeça separados do tronco.

A vítima foi condenada à morte por criminosos por conta da rivalidade entre facções, apontou a apuração policial. Quatro pessoas foram identificadas como participantes no assassinato. Dois como mandantes, que planejaram o homicídio, e dois como executores.

Uma das qualificadoras do crime é traição, porque dois amigos, que figuraram como autores intelectuais do crime, encaminharam o Gustavo até o local de sua morte — relatou o delegado.

De acordo com Papini, Gustavo não sabia que corria risco de morte. No dia do assassinato, ele foi até o bairro Bom Pastor para pegar drogas e encontrou com os executores do crime.

— Eles fizeram uma espécie de tribunal e o condenaram. Porque, supostamente, ele seria um “falso profeta”. Expressão utilizada para dizer que a vítima, embora pertencesse a uma facção criminosa, estava nutrindo amizade por integrantes da facção rival.

A polícia avaliou que a motivação para o crime foi torpe, por se tratar de uma rivalidade entre grupos criminosos. Mas, a morte de Gustavo também foi praticada para garantir a impunidade de um crime anterior, pois a vítima e outros dois indivíduos eram investigados.

Segundo Papini, Gustavo postou a intimação para depor, que recebeu da DIC, em uma rede social. Os comparsas teriam ficado receosos de que o adolescente revelaria a participação de todos na ação criminosa e agiram contra ele como “queima de arquivo”.

A vítima foi alvejada por diversos disparos de arma de fogo e quatro projéteis foram retirados do cadáver. Por isso, a apuração também considerou que o homicídio foi praticado de forma cruel. Transmissão ao vivo e auxílio de multinacionais da tecnologia
A execução do assassinato foi transmitida em tempo real por chamada de vídeo pelo WhatsApp.

Os executores, que estavam no bairro Bom Pastor, fizeram uma transmissão ao vivo para os autores intelectuais do crime, que acompanharam tudo enquanto estavam no bairro Santo Antônio.

A empresa de mensagens instantâneas foi uma das multinacionais que colaborou com a investigação. Google e Uber também auxiliaram com informações e forneceram elementos sobre os envolvidos no caso para facilitar a elucidação do crime.

Ninguém foi preso
Todos as pessoas apontadas como responsáveis pela morte de Gustavo já foram indiciadas. Três foram notificados oficialmente e um é considerado foragido. Entretanto, ninguém foi preso até o momento.

Papini argumentou que os suspeitos respondem em liberdade pois não há requisitos suficientes para a prisão preventiva após dois anos do crime.

— Não há fatos contemporâneos, por parte dos autores, que justificasse o perigo de liberdade — disse o delegado.



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