A cura dos doentes com HIV


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Médicos americanos divulgaram nesta quarta-feira, 27, o quarto caso de cura de doentes com HIV. Um paciente de 66 anos, que não quis ser identificado, vivia com HIV desde a década de 1980. É o homem mais velho, até agora, a ser classificado como curado e está com o vírus indetectável em seu sistema há pouco menos de um ano e meio, após receber um transplante de células-tronco para tratar de leucemia, no qual o doador era resistente ao vírus do HIV.
Em um comunicado, o quarto paciente, que é conhecido como o Paciente City of Hope (‘Cidade da Esperança’, em português), em homenagem ao hospital onde foi tratado, em Duarte, na Califórnia, disse que já tinha perdido a esperança de sobreviver. “Quando fui diagnosticado com HIV em 1988, como muitos outros, pensei que era uma sentença de morte. Nunca pensei que viveria para ver o dia em que não tivesse mais HIV.”

Os três casos anteriores a este deram-se em dois homens, os quais receberam células-tronco adultas que continham uma mutação do gene (CCR5-delta 32). Essas pessoas tornavam os receptores mais resistentes a infecção do vírus. Já no caso de uma mulher norte-americana que também recebeu transplante de células-tronco de um doador que era naturalmente resistente ao vírus, ela recebeu o tratamento para se curar de leucemia.

Segundo Ricardo Diaz, infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), há alguns critérios para considerarmos que uma pessoa realmente foi curada do HIV. Contudo, ele ressalva que o termo ‘cura’ não é o mais apropriado. O melhor termo seria se referir aos casos como “remissão sustentada do HIV sem antirretrovirais”. “Isso quer dizer que você tira o tratamento e o vírus não volta. Em algumas pessoas a gente tem evidências muito fortes de que realmente o vírus não existe mais. Nenhum pedacinho do vírus, nem qualquer sinal de que ele esteja escondido no corpo.”, afirma o médico.

De acordo com o infectologista, para detectar se o HIV de fato não voltou sem os antirretrovirais é preciso esperar cerca de dois anos, pois há essa tendência progressiva da diminuição dos anticorpos detectáveis para o vírus.
Diaz afirma que, apesar de ser fundamental, a suspensão do tratamento com antirretrovirais é um procedimento relativamente arriscado, dado que permite a interrupção do tratamento que impede a multiplicação do vírus no organismo. “A gente ainda tem instrumentos da ‘Idade da Pedra’, da ‘Idade Média’, para monitorar essa remição. O ideal seria a gente ter uma espécie de Raio-X do corpo da pessoa para comprovarmos que ela não tem mais o vírus”, explica.

De acordo com o infectologista, os quatro casos enumerados pelos médicos americanos podem ser classificados como “cura esterilizante” ou “remissão sustentada do HIV sem antirretrovirais”. “Isso quer dizer que a gente consegue ver uma remissão. Temos uma boa evidência de que o vírus foi embora de forma definitiva, mas não temos uma certeza absoluta. Por isso, é preciso acompanhar essas pessoas para sempre.”

De acordo com Diaz, os quatro casos considerados “curados” utilizaram uma estratégia anedótica, visto que são considerados raros e impossíveis de serem produzidos em uma escala maior.

“Eles servem para provar um conceito: a gente cura as pessoas, mas não podemos usar isso e curar todo mundo.”
Diaz afirma também que o transplante de medula óssea não é um procedimento simples e envolve riscos. “Tivemos o caso de pacientes na Holanda, por exemplo, que fizeram o mesmo procedimento e, dos oito envolvidos, sete morreram. Ou seja, o transplante de medula é uma coisa séria. Além disso, nesse mesmo caso, o paciente que não morreu, não teve sucesso”, lamenta o infectologista.

Outro fator que dificulta o sucesso do procedimento e inviabiliza a utilização dessa técnica, de forma universal, segundo o infectologista, é o fato de que a medula do transplante precisa ser “resistente”. Um exemplo da importância deste fato é o que ocorreu com os “pacientes de Boston”: duas pessoas que também passaram por um transplante de medula, e que aparentemente estavam curadas, viram o vírus se manifestar meses após o procedimento.

Segundo dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), atualmente existe 38 milhões de pessoas vivendo com HIV no mundo e de acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil há cerca de 920 mil pessoas. Já o médico Sharon Lewin, presidente da sociedade Internacional da Aids, afirma que a cura continua sendo “o Santo Graal” da pesquisa do HIV. “Houve um punhado de casos de cura individual antes e que elas nutrem uma esperança contínua para pessoas que vivem com HIV e inspiração para a comunidade científica”.

Nesta quinta-feira 28, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a recomendar um novo remédio para evitar a infecção pelo vírus HIV, o Cabotegravir, um medicamento injetável e de ação duradoura. “O Cabotegravir de ação prolongada é uma ferramenta segura e altamente eficaz de prevenção do HIV, mas ainda não está disponível fora dos ambientes de estudo”, afirma Meg Doherty, diretora de Programas Globais de HIV, Hepatite e Infecções Sexualmente Transmissíveis da OMS.

 



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